animais unidos através dos tempos ―
poema de Charles Bukowski | versão de Manuel A. Domingos
Van Gogh a escrever ao irmão sobre os quadros Hemingway a experimentar a caçadeira Céline na bancarrota sendo médico a impossibilidade de ser humano Villon expulso de Paris por ser um ladrão Faulkner bêbado nas sarjetas da sua cidade a impossibilidade de ser humano Burroughs a matar a sua mulher Mailer a apunhalar a sua a impossibilidade de ser humano Maupassant a enlouquecer num barco a remos Dostoievski encostado a um muro à espera do fuzilamento Crane a saltar do barco para a roda-de-pás a impossibilidade Sylvia com a cabeça no forno como uma batata assada Harry Crosby a criar a Black Sun Lorca assassinado por militares à beira da estrada a impossibilidade Artaud sentado no alpendre do manicómio Chatterton a beber veneno para ratos Shakespeare o plagiador Beethoven com um corno espetado no ouvido contra a surdez a impossibilidade a impossibilidade Nietzsche a enlouquecer por completo a impossibilidade de ser humano demasiado humano a sua respiração expira-inspira inspira-expira estes sacanas estes cobardes estes campeões estes gloriosos alucinados a carregar este pequeno pedaço de luz até nós impossivelmente em You get so alone at times that it just makes sense, New York: Ecco, 2002, p.21